Casa Vogue. Edição Impressa e Digital. 23 de Setembro de 2020 - Por Mariana Conte
Heloisa Crocco desenvolve painéis para a fachada de um edifício em Porto Alegre
Quem passar em frente ao edifício Iguaçu, localizado na Avenida Iguaçu, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, RS, certamente notará os painéis da fachada do empreendimento. Trata-se da maior obra de escala urbana desenvolvida pela artista plástica gaúcha, Heloisa Crocco. O projeto, entregue no primeiro semestre de 2020, é assinado pela Smart, um escritório de arquitetura e desenvolvimento imobiliário que busca desenhar edifícios comprometidos com as cidades e que deixem interferências positivas na paisagem, como um legado para as futuras gerações.
O trabalho de Heloisa aparece em brises deslizantes distribuídos por oito andares e também em um painel de 22 metros de comprimento logo na entrada do prédio. Os elementos oferecem sombreamento aos apartamentos e, conforme a incidência de luz, desenham sobre os móveis e revestimentos o alfabeto particular da artista.
“Desde o início, tínhamos o objetivo de impactar positivamente o bairro por meio de formas silenciosas. A simbiose entre arte e arquitetura foi o caminho encontrado para equilibrar força e sutileza, silêncio e mensagem, contemporâneo e ancestral. Uma ponte entre territórios”, explica Márcio Carvalho, arquiteto e sócio fundador da Smart.
Foi com essa ideia em mente que, ao conhecer Heloisa Crocco pessoalmente, lá em 2016, quando o projeto Iguaçu estava sendo idealizado, Márcio entendeu que o diálogo entre arquitetura e arte que ele tanto buscava estava ali, mais especificamente na pesquisa Topomorfose que a artista plástica desenvolve há 40 anos.
“Eu fiquei encantada com a sensibilidade do projeto e a subjetividade desse primeiro encontro norteou todo o processo”, revela Heloisa, que desenvolveu o desenho junto com os arquitetos do escritório.
A pesquisa de Heloisa é feita sobre os anéis de crescimento das árvores, através do estudo da linha do tempo delas, e tem diversos desdobramentos dos grafismos obtidos da natureza, com mais de quatro mil possibilidades. “Eu já criei para diversas superfícies e escalas, mas nunca nessa proporção. Desde o primeiro contato com o projeto eu sabia que estava diante de algo novo e valoroso”, compartilha a artista.
Desenvolvido de forma colaborativa com os profissionais da Smart, os painéis incorporam esses padrões e deram a leveza que o escritório buscava para a construção. “Vislumbramos o efeito de luz e sombra do movimento do sol invadindo os apartamentos, quebrando a verticalidade dos brises ao tatuar a pesquisa nas paredes, no piso, nos móveis e objetos”, conta Heloisa, que ao visitar o edifício pronto pode perceber o efeito concretizado. “Nos aproximamos da fachada e nos permitimos ter pele e roupas tatuados de Topomorfose”.
O contraste entre materiais reforça a identidade que o escritório busca em seus projetos: a estrutura do edifício é de concreto armado aparente, moldado in loco, e os painéis feitos de aço e alumínio em padrão corten.
O resultado final é mutável, já que o desenho da fachada pode se alterar de acordo com a vontade dos moradores, que estão livres para deslizar as lâminas. “Desenhamos um edifício que se molda à paisagem, leve, transparente e essencial, com uma fachada viva e dinâmica na fronteira entre o exterior e o interior, entre a arquitetura e a arte, entre o ancestral e o contemporâneo”, conclui Márcio.
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