Revista Projeto. Edição Impressa e Digital. 28 de Setembro de 2020 - Por Evelise Grunow
Smart + Studio Prudêncio: Edifício Residencial Iguaçu, Porto Alegre
Quarto empreendimento incorporado e construído pela Smart, de Porto Alegre, o Edifício Iguaçu é um residencial de nove pavimentos mais embasamento com dois pavimentos, localizado em lote resultante do remembramento de dois terrenos de 11 metros de largura por 40 metros de profundidade. Discreta visualmente, a arquitetura configura um plano cartesiano em conjunto com os brises verticais – móveis – da fachada, concebidos pela artista plástica Heloísa Crocco. Além destes, também o painel que recobre a frente da edificação, configurando um pano de fundo para a vista que para ele se abre a partir da praça do outro lado da rua, são obras de arte em escala arquitetônica.
Diante da condição especial do terreno naquele trecho do bairro Petrópolis, próximo ao Centro de Porto Alegre, onde a existência de uma praça fronteira ao lote distancia o empreendimento cerca de 50 metros de construções do outro lado da rua, a equipe da Smart, atelier de arquitetura e desenvolvimento imobiliário criado em 2009 pelos sócios Márcio Carvalho e Ricardo Ruschel, ambos arquitetos, cedeu espaço à cidade e aos futuros moradores para criar uma arquitetura visualmente discreta, espacialmente generosa e acolhedora. Todo o recuo frontal foi cedido ao passeio público a fim de prolongar a ambiência da praça, e a edificação, posicionada em cota baixa do terreno com declive transversal, tem ocupação aerada no embasamento. O térreo e o primeiro pavimento, recuados em relação à torre, são volumes que se alternam lateralmente na zona frontal do lote e através dos quais se acede ao edifício e se desfruta dos ambientes para o convívio social. Envidraçados, a partir deles pode-se ver as espécies naturais que traçam caminhos, recuos e ilhas de contemplação no térreo, sendo eficiente o paisagismo no propósito de criar-se um local
introspectivo.
São apartamentos de 103, 207 e 215 metros quadrados que constituem as tipologias do Iguaçu, sendo a primeira a unidade padrão, a segunda aquela resultante da união de duas unidades vizinhas e a terceira, o apartamento de cobertura. Dada a situação urbanística mencionada anteriormente, o layout se resume ao posicionamento do estar na parte frontal do edifício – face Noroeste – e dormitórios na posterior, zona em que está implantada a área de lazer coletiva no primeiro pavimento. Escada e elevadores são centrais na implantação, assim como os ambientes de serviço. Resulta a disposição longitudinal das unidades-tipo, estendendo-se cada uma delas de frente a fundos.
São generosos os pé-direitos – padrão de 2,70 metros, com a exceção do apartamento de cobertura, este com 3,90 metros livres de altura interna – e a laje é feita com o sistema nervurado a fim de, na ausência de vigas, facilitar remanejamentos de layout nos apartamentos. Toda a fachada frontal é envidraçada, composta por caixilhos de alumínio do tipo piso-teto vedados com vidros duplos, e ela se desdobra em trechos das faces laterais. A planta em U da fachada envidraçada é, então, demarcada externamente por abas horizontais que se repetem em todos os andares – com comprimentos variáveis nas laterais do edifício -, de modo a funcionar como filtro à incidência solar à pino. Feitas com laje plana maciça, tais peças têm papel compositivo arquitetônico, de cadência do plano cartesiano idealizado pelos arquitetos como pano de fundo ao elemento de identidade do Iguaçu.
Trata-se do produto da parceria criativa da Smart – e Studio Prudêncio, que desenvolveu o projeto arquitetônico – com a artista plástica Heloisa Crocco. A partir da linha de trabalho Topomorfose da artista, iniciada há 40 anos e inspirada nas linhas de crescimento das árvores visíveis através do corte longitudinal dos troncos, a ideia da equipe de projeto era fazer dos brises verticais da fachada – um por unidade – e do pórtico de entrada do edifício, elementos artísticos em escala arquitetônica. Construídos com painel de alumínio composto (ACM) no padrão cortén, assim, tanto os painéis verticais móveis – eles medem 1,5 metros de largura por 2,70 metros de altura – quanto aquele multiuso do térreo – ao mesmo tempo chapa fixa, portão para acesso de automóveis, passagem de pedestres e porta para ambientes funcionais -, que mede 22 metros de comprimento por 3 metros de altura, são destaque da edificação.
Elegeram-se cinco padrões gráficos para os cortes à laser efetuados no ACM e três tamanhos de aplicação, de modo que cada brise e cada trecho do pórtico do térreo tenha composição única. Com espessuras de corte variáveis conforte os graus de transparência desejáveis em cada
situação, os seus recortes – grafismos – são visíveis já à média distância, mas à contraluz eles ganham profundidade ou dramaticidade especial. A observação vale sobretudo para o painel do térreo que, emoldurado por concreto e solto do corpo da torre – sobre ele há o vazio gerado pelo
recuo do embasamento – unica com graça a série de interferências de entrada, saída e acessos técnicos da edificação, evidenciando a sua vocação artística. Arquitetura e arte completam-se no Iguaçu: “Não sei aonde começa uma e termina a outra”, conclui Carvalho, que já tem planos para a
criação de um parque de esculturas no seu projeto atualmente em construção: O Porto 1820, um residencial com 26 unidades localizado na orla do Rio Guaíba, em Porto Alegre.
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